19 novembro 2009

Mecânicos - até que provem o contrário, são todos mentirosos

“Andreeeé! Chega aiiií...”

“Fala rapaz...”

“Ele ouviu um barulho aqui no motor”.

“É, foi aqui na correia dentada...”, digo, tentando demonstrar conhecimento.

Por que demonstrar conhecimento? Porque se eu demonstrar conhecimento vão pensar duas vezes em me enganar. Vão mesmo? Não sei. Acho que a capacidade de mecânicos inventarem problemas nos carros é maior do que a própria capacidade de consertar os carros.

Na escola de mecânicos deve existir as matérias “Convencimento de problemas inventados 1” e a “Convencimento e interpretação”, essa minsitrada por algum professor de artes cênicas.

Com esse barulho na correia dentada, levei o carro à concessionária. Não sei porque somos tão ingênuos a ponto de acreditar que só porque eles são autorizados, seriam mais honestos. Que nada. Estão autorizados a roubar e inventar mais ainda. O cara teve a capacidade de dizer que eu teria de pagar 170 reais só pro mecânico abrir e verificar o motivo do barulho na correia. Fica esperando.

Levei o carro em outro lugar. Perto de casa. Abri o capô. Eu e o mecânico ficamos procurando o barulho. “Esse barulho é do bico injetor”, ele disse. “Ah, esse é, né?”, atestei. Ele acabava de perder a oportunidade de me enganar. O barulho na correia tinha parado e eu levei o carro sem nada. Obrigado, vou prestar atenção se o barulho volta e tchau.

Em oficinas, a minha tática agora é a frieza: negar qualquer tipo de problema no carro.

Dia desses, passo em frente a uma loja de pneus e amortecedores e leio o anúncio: “Faça o balanceamento, ganhe o alinhamento. 40 reais”. Poxa, o normal é pagar 45, 50 reais pelos dois. Grande promoção. Mas fica perto de casa, tô passando na porta, então, resolvo entrar.

O cara começa o serviço. Levanta o carro pra tirar os pneus. De repente, me chama.

“Ô amigo, ó, esse amortecedor aqui tá vazando óleo”

“Ah, é? Cadê?”, digo.

“Aqui ó, no meu dedo”

“Não, tô vendo não” (O dedo do cara tá preto. Preto de pretume de pneu. Não tem sinal nenhum de óleo. Tá seco. Tá querendo me enganar, é? De jeito nenhum, mané)

“É, aqui ó, cê deve ter passado em algum buraco... tá novinho, mas deve ter quebrado...”

Aí, só pra provar a tese de que o cara quer mesmo tirar a grana do meu bolso, eu pergunto:

“E nesse caso, eu tenho que fazer o que?”

“Trocar tudo”.

Sei, sei.

“Vou andar mais um tempo pra ver se noto alguma coisa. Vou trocar isso agora não”, decretei.

Inventa outra. Nessa eu não caio. Só saio daqui gastando 40 pilas.

E não é que o cara me chama de novo?

“Olha, essa pastilha sua aqui já ta gastadinha, gastadinha...”

“Deixa eu ver”

“Mais um pouco vai pegar aqui no disco e vai dar problema, tá na hora de trocar ela”

“Não, não...acho que dá pra andar mais um tempo. Ele nem tá chiando, cara. Vou trocar agora não”

Aí, já vi que o cara tava meio impaciente. Fez cara feia no ato.

Hora do alinhamento. O sujeito me chama de novo.

“Seguinte... vai ter que fazer cambagem. Tá vendo aí”, aponta um monitor.

“Uai, e não dá pra alinhar, não?”

“Não, dá, dá. Mas tem essa diferença aí, que a cambagem arruma”

“E pra fazer essa cambagem paga?”, mandei essa de uma forma bem irritantemente imbecil.

“Paga”

Aí, o cara desiste de me convencer sozinho e chama um cara com cara de gerente.

“Vai ter que fazer cambagem aqui nesse dele”.

“Quanto custa?”, pergunto.

“A cambagem é 35 reais, fica tudo em 75 reais”, fala o gerente, daquele jeito meio manso, como se 75 pila fosse baratinho e meu dinheiro saísse da torneira lá de casa.

“Poxa, mas dá pra alinhar sem cambagem. Vou fazer não. Em uma próxima vez eu faço isso”.

Eles ficaram mudos. Fecharam a cara totalmente. A promoção é um anúncio pra trazer clientes. E uma vez esses clientes dentro do recinto, a ordem parecia ser enganá-los. No melhor estilo “pague uma promoção para entrar, fique no prejuízo para sair”. Comigo não. “Só deixo 40 reais aqui hoje”, eu pensava.

O mecânico terminou o alinhamento, que acompanhei atentamente. Em todo o tempo, ficou com a cara fechada. Acabou. Paguei os 40 reais. O cara com cara de gerente ainda falou pra eu voltar sempre, que precisando, eles estavam lá. Agradeci e vazei.

Vou negar todo tipo de problema no carro. Sei lá, só vou acreditar quando mecânico conseguir provar o diagnótisco. Ou então, que se irrite comigo e diga: “eu tô falando a verdade, cara! Juro! Sem essa parafuseta aqui seu carro vai parar!”. Aí, quem sabe, talvez.