04 maio 2010

Circo moderno

Para o Paulinho, vão passar um vídeo dele todo lambrecado. Cheio de papinha no rosto. Quando tiver com 16 anos, vai ficar meio constrangido ao rever as imagens, mas vai rir e, no fundo, ficar orgulhoso daquela alegria que deu aos seus pais.

Já o Tiago vai assistir a seus primeiros toques em uma bola de futebol. Vai ver as primeiras vezes que vestiu a camisa de seu time do coração. Ainda bem que alguém registrou aquilo.

Aos dois meninos que foram destrocados em frente a um circo montado pela Justiça goiana nada disso vai rolar. Pelo contrário. Gravaram deles um vídeo mórbido. E pior, um monte de gente no Brasil inteiro assistiu a um momento definitivo na vida dos dois. Quando perderam a primeira mãe. Quando foram trocados e entregues às mães biológicas. Não que eu seja contra a troca. Acho que é mesmo o correto. Mas precisa daquilo? Precisava montar aquele circo com fotógrafos, câmeras de TV e um bando de gente desconhecida que não tem nada a ver com a vida daquelas pessoas?

Não. Não precisava.

Tudo poderia ter sido feito com a presença de dois ou três agentes da Justiça, as mães e familiares mais próximos. Não precisava ter montado um show em que a atração principal é o choro das mães e o desentendimento nos rostinhos e gestos dos meninos. Não precisava criar o cenário final. Como se aquela fosse a última vez que elas veriam as crianças.

As famílias, as mães, as crianças foram expostas de uma maneira escrota, pela Justiça e pela Imprensa. Não precisava.