23 julho 2010

Manifesto dos pelos

Há pouco tempo rolava na Tv um comercial de cerveja em que uma mulher dizia: "odeio homem peludo". O mané ouvia, corria e passava pela tortura de uma depilação. Hoje, se você for à praia e andar por lá oferecendo a visão de seus pelos aos outros praianos, provavelmente receberá em troca olhares de desaprovação. Pelo tá tão fora de moda que perdeu até o acento circunflexo na reforma ortográfica.

Nem sempre foi assim. Quando eu era moleque, junto com todos os outros moleques, esperávamos ansiosos pelos pelos (viu pessoal da reforma ortográfica? são duas palavras diferentes, é estranho ficar tudo igual). Quando é que os primeiros pelos surgiriam e montariam acampamento no nosso tórax? Ter uma penugem ali era sinal de que você não era mais um molequinho, a família, as garotas, os colegas, todos iam passar a te respeitar mais. Sim, pelo era sinal de respeito. Já pensaram o Andy Garcia depiladão naquela cena do Poderoso Chefão 3 em que ele salva a namorada dele de dois assassinos? Certamente ele não teria aquela moral toda. Mas, respeito aos peludos? Hoje não há. Pelo contrário (tá, não resisti). Eu não sou um Tony Ramos, mas também não sou feito um manequim de vitrine. Mas pelos padrões atuais eu sou considerado um 'peludo'. E aqui no Brasil é assim, somos em maioria descendentes dos ibéricos, muitos de nós tem no DNA a informação de que somos peludos mesmo, nesse quesito (mais um), pouco somos distantes dos símios.

Já fui importunado com pedidos de "por que você não depila?". Mais de uma vez. A probabilidade de eu depilar meus pelos das costas e do tórax é a mesma do Silvio Santos ser a estrela de um programa da Globo. Zero. Inimaginável. E, mais do que isso, impraticável. Já é um tormento ter de diariamente, semanalmente eu ter de fazer a barba, imagina então raspar meus pelos corporais? Nunca.

Declaro aqui ser contra a ditadura da depilação masculina. Maldito dia em que um modelinho qualquer, desprovido de pelos, fez fotos para um editorial de moda internacional e fez a moda pegar. Azar dos caras que não tem pelo. Eles são lagartixas, nós somos os verdadeiros bichos de pelúcia de nossas senhoras. Isso mesmo. Aliás, aproveito aqui para deixar claro às mulheres que conheço bem o plano maquiavélico de vocês: fazer cada vezx mais os homens se torturarem com a insana e tresloucada mania de raspar, passar creme, alisar, pintar. Essas coisas que vocês fizeram durante séculos, muitas vezes, claro, porque tinham de satisfazer os padrões exigidos pelos homens, de ter uma mulher devidamente bem cuidada. Vocês também querem ter um homem bem cuidado. Tudo bem, é a vez de vocês descontarem. É a vingança, eu entendo, sinceramente. Mas eu não caio nessa. Não adianta a pressão, nem a repressão. Os pelos continuarão, imunes a modismos e a depilações. Bom, pelo menos os pelos das costas, do tórax, já que os da cabeça, esses parece que desistiram da luta. Mas isso rende outro texto.